Depois de dois anos de crescimento no setor imobiliário, aparecem os desafios: para o escritor e economista Eduardo Giannetti, o ano de 2022 será marcado pelo aumento de taxas, lentidão do crescimento imobiliário, inflação alta e imprecisão fiscal. “Estamos em um processo de deterioração permanente das contas públicas”, afirma.

Ele explica que será uma “luta difícil para o Banco Central sozinho, sem ajuda da política fiscal, reverter uma taxa de inflação que ameaça sair do controle”. Isso, porque o ramo imobiliário sofre os impactos tanto da queda quanto do aumento nos valores de juros, que podem regressar aos dois dígitos.

Essa visão foi corroborada pelo presidente do Sindicato da Habitação em São Paulo (Secovi-SP), Basílio Jafet, que também previu anos difíceis. Apesar de manter as esperanças na recuperação a médio e longo prazo do setor, ele aponta outra problemática significativa: “Ainda existe um déficit habitacional: nas principais metrópoles no Brasil, temos necessidade de construir 1,5 milhão de novas moradias por ano”, explica.

Luiz Antônio França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadores (Abrainc), apesar de concordar com os posicionamentos, contou que vê a conjuntura de forma ligeiramente positiva. O foco, para ele, é o mercado de moradias de baixa renda no próximo ano, já que esse nicho apresenta formação de taxas advindas do funding do FGTS. Em suma, os proprietários de programas como o Casa Verde Amarela — de residências para baixa renda com juros subsidiados — já representam 90% das contas do FGTS, enquanto a outra porção do setor (de médio e alto padrão) enfrenta a possibilidade de disputar ativos reais, como imóveis.

O vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Celso Petrucci, também preferiu seguir a mesma linha de pensamento. “A estimativa é que o mercado do Casa Verde Amarela represente 75% do setor imobiliário do país, em números de unidades lançadas. Além de uma demanda reprimida, pode ser que as pessoas procurem por imóveis como reserva de valor, para não depender da volatilidade do mercado financeiro. Para 2022, prevejo um número [de vendas de imóveis] próximo deste ano. Não acho que vai haver uma redução neste número”, avalia.

Um possível auxílio no ramo pode vir da regulação, em 2023, de acordo com Otávio Damaso, diretor de regulação do Banco Central. Podem ser liberados até 6 bilhões de reais em requerimento de capital para créditos imobiliários, com a implementação da última fase das normas prudenciais do setor financeiro de Basileia 3. O Acordo de Basileia 3 é uma resposta às principais vulnerabilidades apresentadas pelo setor bancário durante a crise financeira de 2008. “O novo padrão, que deve ser publicado de Basileia 3, deverá entrar em vigor a partir de janeiro de 2023, com granulidade maior na forma como se encara o risco das operações de financiamento imobiliário. Em termos de impacto, haverá uma redução de requerimento de capital de R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões”, pontua o diretor.

Fonte: AEC