O mercado imobiliário de luxo e alto luxo registrou nos dois primeiros meses deste ano aumento de 14% no volume de lançamentos em comparação a janeiro e fevereiro de 2021, com um total de 787 unidades. Os dados constam de pesquisa recente da consultoria Brain — Inteligência Estratégica e atestam a efervescência do segmento, com uma profusão de empreendimentos cada vez mais sofisticados, o que justifica o crescimento de 3,9% no volume de vendas no período.

Levando-se em consideração que no primeiro bimestre de 2021 o cenário econômico no país era absolutamente favorável ao investimento no mercado imobiliário (momento em que as taxas de juros alcançaram a mínima histórica de 2%), o desempenho do mercado no segmento de luxo e alto luxo torna-se ainda mais significativo.

Na avaliação do sócio-diretor da Brain, Fabio Tadeu Araújo, o movimento de ressignificação da moradia desencadeado pela pandemia ainda é a principal justificativa para o crescimento desse mercado, uma vez que a decisão de compra do cliente de alto poder aquisitivo não é influenciada por fatores econômicos — prevalece a procura por mais conforto e, principalmente, sofisticação.

“Há uma busca sem precedentes na História moderna por bem-estar. Para o consumidor de luxo, diferenciais de conforto como um apartamento com pé-direito alto e varandas integradas são importantes”, afirma Tadeu, ressaltando que a recente valorização dos imóveis acima dos índices de inflação também vem contribuindo para o desempenho do mercado.

Michel Wurman, diretor da Área Imobiliária do BTG Pactual, segue na mesma linha de análise e aponta a valorização desse segmento como uma das razões para a performance do mercado imobiliário no primeiro bimestre do ano. Mas pondera que a oferta de ativos de maior qualidade vem estimulando o aumento da demanda. “O mercado brasileiro hoje tem poucos produtos interessantes e diferenciados, o que gera uma demanda forte por causa da escassez”, diz ele.

Na sua avaliação, nos últimos dois anos houve uma grande evolução no conceito dos empreendimentos, com a incorporação no mercado nacional de tendências internacionais. “Os residenciais ganharam mais sofisticação e requinte, na medida em que as empresas começaram a testar produtos com designers internacionais, trazendo para o mercado ten-dências mundiais.”

O presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz França, corrobora a opinião, enfatizando que “o mercado imobiliário inovou e criou produtos que atendem a demandas de um público mais sofisticado”. E constata: “O comprador desse tipo de imóvel está em busca de conforto, localização privilegiada, segurança e todos os atributos de um residencial de padrão diferenciado”.

França argumenta ainda que outro ponto a ser considerado é que o imóvel, por proteger o capital da inflação, é muito buscado por pessoas de alta renda. Na sua avaliação, o mercado imobiliário do segmento de alto padrão deve manter-se em expansão a despeito dos prognósticos pouco favoráveis para a economia brasileira nos próximos meses.“

A compra de imóveis é uma ótima opção para proteger o patrimônio em função das variáveis econômicas que o país vive hoje. É uma boa opção de investimento. Além disso, nas metrópoles há poucos espaços disponíveis em áreas nobres, o que torna muito atrativos os produtos de luxo que são lançados.”

No total das unidades lançadas por região, o Sul do país apresentou o maior índice de crescimento: 19,4% contra 6,2% em 2021. O valor global de lançamento (VGL) teve aumento de 70,4%. E, segundo a Brain, a região deverá fechar o ano com aumento de 20% no volume de lançamentos. A região Sudeste deverá manter-se estável, em razão do elevado número de lançamentos ocorridos recentemente.

Já a região Nordeste, assim como o Sul, também tem excelentes perspectivas de evolução, podendo atingir algo como 20% de expansão. “Vai depender apenas do número de empresas interessadas em investir naquele mercado. O problema do Nordeste não é de demanda, mas de oferta”, afirma Tadeu, referindo-se ao fato de poucas empresas especializadas atuarem no mercado de construção nos estados da região.

Real estate de luxo vive boom mundial

Acúmulo de riqueza no topo da pirâmide, surgimento de novos bilionários e oportunidades de negócio aquecem o setor.

Com a retomada da economia a partir de meados de 2021, o mercado imobiliário de alto padrão em todo o mundo passou a experimentar um novo ciclo de alta de preços e negócios. Nos Estados Unidos, por exemplo, as vendas de casas de luxo cresceram 15% no ano passado.

Para este ano, a tendência de valorização se confirma. De acordo com um levantamento da consultoria Knight Frank publicado no mês de março, o preço dos imóveis desse segmento nos 28 principais mercados globais do setor deve subir, em média, 5,7% neste ano. Cidades como Dubai, Miami e Zurique poderão registrar percentuais superiores a dois dígitos, alcançando até 12% de sobrepreço.

Segundo analistas do mercado, a razão do aquecimento é o acúmulo de riqueza no topo da pirâmide. No ano passado, a população de milionários no mundo — com patrimônio acima de US$ 5 milhões — cresceu quase 20%, conforme demonstrado no “The Report: 2022 global luxury market insights”, produzido pelo Coldwell Banker Real Estate LLC, dos Estados Unidos. Outro dado, da Oxfam, revelou o surgimento de um bilionário novo a cada 26 horas em 2021.

Miami, na Flórida, deve se confirmar como um dos destinos preferenciais desse tipo de investimento. O lugar abriga 2,8 mil ultra-high net worth individuals, pessoas com patrimônio acima dos US$ 30 milhões, que buscam a cidade atraídos pelo clima ensolarado e pelos impostos mais brandos.

No ano passado, o mercado de imóveis para alta renda em todo o condado cresceu 40%. Outro fator de atração são os valores dos imóveis, comparativamente mais acessíveis em relação a capitais europeias e do Oriente Médio. Segundo a Knight Frank, com US$ 3 milhões já se consegue acessar a faixa de 1% dos empreendimentos mais caros da cidade. Em Mônaco, seria preciso desembolsar quase US$ 15 milhões para a mesma categoria de produto.

Fonte: Valor Econômico