O Brasil nunca exportou tantos móveis como no ano passado. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), foram US$ 983,3 milhões em peças vendidas para 172 países, receita 50% maior que a de 2020, um recorde histórico.

No total, foram fabricados 421,2 milhões de peças, patamar que coloca essa indústria como a sexta maior do mundo. Cerca de 80% da produção é de pequenas fábricas, concentradas no Sul, no Sudeste e no Nordeste. E os investimentos em melhorias na cadeia produtiva aumentaram 176% no ano passado.

O volume de móveis produzidos em março passado foi de 29,3 milhões de peças, 11,5% maior do que o de fevereiro — números superlativos que confirmam o excelente momento do setor moveleiro nacional. No mercado interno, os números refletem não apenas o caixa das empresas, mas a abertura de novos espaços comerciais, o retorno das grandes feiras do segmento, a expansão das fábricas e o aumento dos negócios online.

No exterior, cresce a participação de fabricantes brasileiros em eventos como o Salão Internacional do Móvel de Milão (Itália), realizado no início de junho.

Design + Indústria

Para Michel Otte, ex-presidente e atual tesoureiro da Associação Brasileira de Móveis de Alta Decoração (Abimad) — que reúne 160 empresas e completa 20 anos em 2023 —, o momento positivo é consequência de um processo iniciado há uma década, quando designers profissionais passaram a contribuir diretamente com as fábricas moveleiras.

“Foi um movimento de quase ruptura do padrão de trabalho da época, que estimulou a indústria a se aprimorar tecnologicamente para fabricar produtos mais sofisticados”, afirma Otte, que é CEO da Butzke, marca moveleira sediada em Timbó (SC).

Pela Abimad, o executivo recebeu com entusiasmo a volta das feiras presenciais, após dois anos de pandemia. A próxima edição do evento ocorre de 19 a 21 de julho, em São Paulo. Em fevereiro, no primeiro encontro do ano, mais de 16 mil pessoas visitaram os estandes e foi fechado R$ 1 bilhão em negócios.

A ressignificação da casa gerada pela crise sanitária foi um dos motores que mais impulsionaram as vendas de móveis no país, fazendo a indústria trabalhar dobrado para atender à demanda. “Isso fez o fabricante de móveis brasileiro melhorar sua capacidade produtiva e qualificar mão de obra e matéria-prima, equivalendo-se ao mercado europeu”, avalia Angelo Derenze, diretor do D&D Shopping, em São Paulo.

Outro fenômeno detectado por Derenze foi a maior valorização do design brasileiro nos últimos anos, em especial, por conta do câmbio. “Para um comprador nacional, investir em um móvel em euros fica desequilibrado, e para o desenvolvimento da indústria também é melhor apostar em designers do Brasil.”

Inovação

Os investimentos das empresas do setor para aprimorar seus produtos não se resumem à compra de maquinário. Em Bento Gonçalves (RS), a Evviva — marca de móveis planejados de alto padrão inaugurada em 2002 — criou um espaço sensorial bem no meio da fábrica de 18 mil metros quadrados.

Batizado de Box Evviva, o espaço sugere aos visitantes um tour que inclui instalação de arte, anfiteatro para receber pequenos grupos e salas interativas que destacam os diferenciais dos móveis fabricados ali.

O passeio atravessa um show-room com cozinha e ambientes de estar e corporativo, um espaço-galeria que remonta a trajetória do grupo Bertolini, dono da marca, e termina em uma sala de projeção de alta definição.

“Investimos R$ 1 milhão no espaço para criar experiências que contem nossa história e traduzam o que chamamos de espírito do lugar: o terroir da Serra Gaúcha, presente nos materiais que utilizamos, nos lugares e nas pessoas que fazem nossa marca”, afirma o CEO Evandro Boscardim.

Em 2021, a Evviva aumentou seu faturamento em 62%, suportado por 34 lojas no Brasil e representantes em Portugal e no Paraguai. Até o final do ano, a expectativa é desembarcar em mais seis países.

Oportunidades

Para capturar esse aquecimento do mercado, novos negócios têm surgido tanto no ambiente físico quanto no digital. O Shopping Cidade Jardim, um dos templos do consumo de luxo em São Paulo, promete para outubro a inauguração de uma ala exclusiva para marcas de design mobiliário.

Serão dez mil metros quadrados de área bruta locável e aproximadamente 40 lojas. “A Faculdade Belas Artes, com três mil metros quadrados, já está em operação”, conta Robert Harley, CEO da incorporadora JHSF. “Como o Cidade Jardim sempre foi pioneiro em tendências, não poderíamos deixar de dar esse passo, que faz parte do nosso projeto de expansão.

”Novas oportunidades também surgem no mercado digital, em que as vendas de itens de casa e decoração seguem em alta. Segundo a edição 45 do relatório Webshoppers, publicado em março pela NielsenIQ|Ebit, em parceria com a Benx Pays, o segmento respondeu por 11% do faturamento total do e-commerce no Brasil em 2021 — um montante de R$ 182,7 bilhões, atrás apenas dos eletrodomésticos e da telefonia.

A Boobam, marketplace que faz a transação direta de mais de oito mil peças de mobiliário assinadas por cerca de 400 designers brasileiros, viu seu volume de vendas dobrar em 2021. O resultado cacifou a estratégia dos sócios Thomaz Vidal, Henry Barclay e Marco Azeredo de abrir a primeira loja física da marca no bairro de Pinheiros, em São Paulo.

“Apostamos no somatório de forças desse modelo híbrido. A compra de um móvel assinado, que envolve um ticket alto, em geral é um momento especial na vida do cliente, o que nos motivou a criar uma experiência off line para ele”, explica Barclay.

Fonte: Valor