Contrariando a tendência de retração do mercado diante da alta dos juros na economia brasileira, os financiamentos imobiliários parecem ser um setor que vão se manter aquecidos, pelo menos nos próximos meses. E um dos termômetros que ratificam essa tendência antagônica é o balanço apresentado pela Caixa em maio.

Naquele mês, o banco estatal despejou simplesmente R$ 15,6 bilhões no mercado imobiliário, o maior resultado mensal da história da instituição. Para se ter ideia da relevância deste desempenho, o recorde anterior era de R$ 14 bilhões registrados em agosto do ano passado, quando a taxa Selic ainda estava na casa dos 5,25% – hoje, está reajustada em 13,25%, com projeção de chegar perto dos 14%.

O que explica a contradição do mercado é na verdade um choque entre duas potenciais forças econômicas. De um lado, há uma grande pressão do governo federal para reduzir o consumo, desencadeando assim uma consequente queda dos índices da inflação, que hoje estão num patamar próximo de 12% no acumulado de 12 meses.

Por outro lado, o mercado imobiliário nacional encontra-se altamente aquecido, apresentando uma performance admirável desde o ano passado. Segundo o indicador Abrainc-Fipe, da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), o segmento residencial cresceu nada menos que 226% em 2021 em comparação com 2020.

Financiamento para imóveis de alto padrão e investimento

O que aponta para uma elevação do mercado no restante do ano é a procura por imóveis de alto padrão e a valorização do metro quadrado, indicando que há um universo de consumidores bastante interessados em adquirir imóveis com a finalidade de investimento.

Para atender a esse público, os lançamentos imobiliários de médio a alto padrão chegaram a mais de 64,5 mil unidades em 2021, e quase 28 mil foram comercializados no mesmo ano – um crescimento de 21% no comparativo com o ano anterior. Por isso, as ações de combate à inflação devem ter efeitos em outros setores, mas as classes A e até mesmo B passam relativamente incólumes ao aumento dos juros, pelo menos na hora de recorrer aos financiamentos imobiliários.

Não por acaso, a construção civil demonstra ser um setor tão sólido quanto as estruturas dos grandes edifícios que vêm sendo erguidos. Talvez pelo grande potencial de retorno financeiro, é mais um investimento aparentemente seguro diante de taxas de juros tão altas como as que são praticadas em nosso mercado. É isso que talvez seja capaz de explicar que o que parece imponderável na verdade é repleto de lógica.

(*) Sanzio Cunha é sócio fundador e CEO da Lotus Capital

Fonte: O Tempo