Após atingir "o fundo do poço" em abril de 2020 (20%) e mais que dobrar em novembro do mesmo ano (46%), a intenção de compra de imóveis no país começa a desacelerar e a apresentar quedas sucessivas quando se analisam os primeiros nove meses de 2021.

Em fevereiro deste ano, 44% dos brasileiros manifestavam o desejo de adquirir o bem, porcentual que caiu para 42% em maio e para 39% em setembro, segundo levantamento realizado pela Brain Inteligência Estratégica e apresentado na última quinta-feira (16). "Estes números sugerem uma tendência de estabilização", avalia Fábio Tadeu Araújo, sócio-diretor da empresa de pesquisa de mercado.

Entre os diversos fatores que contribuem para este cenário, o aumento nas vendas é um dos principais. Estimulado pelos juros baixos e pela urgência das pessoas em mudar de casa - decorrente da maior percepção do lar durante o confinamento -, as vendas vêm crescendo desde o início da pandemia e registram variação positiva de 60,7% no comparativo entre o segundo trimestre de 2020 e o mesmo período de 2021, sendo que o último registrou volume de 65.975 unidades comercializadas. Isso faz com que uma parte dos que antes eram potenciais compradores já tenham efetivado a aquisição e, por isso, não integram mais este grupo.

Outro dado que ilustra esse aumento é o total de financiamentos disponibilizados pelo SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), que somou R$ 115,83 bilhões nos primeiros sete meses de 2021, alta de 113,8% em relação a igual período de 2020.

"Estamos desde maio, junho do ano passado com mais vendas do que lançamentos. Atualmente, a oferta final é de cerca 180 mil imóveis em estoque, o que seria suficiente para suprir apenas 8,3 meses de vendas, caso mais nenhum empreendimento fosse lançado", ilustra Araújo.

Cenário positivo

A retomada dos lançamentos, que vem ganhando força nos últimos meses, é uma das frentes que justifica a aposta nos bons resultados do setor até o fim deste ano e também para os primeiros meses de 2022. Para se ter ideia, o volume de novas unidades registrou alta de 115% no comparativo entre o segundo trimestres deste ano com o igual período de 2020.

"Seguramente este ano será o melhor em termos de unidades lançadas e vendidas. O problema do mercado imobiliário, hoje, não é demanda, mas sim como adequar o produto, a capacidade de fazer lançamentos e de colocar o nosso produto no bolso do consumidor", aponta Celso Petrucci, vice-presidente de área da CBIC e presidente da Comissão da Indústria Imobiliária (CII) na mesma entidade.

A avaliação está alinhada ao manifestado pelos entrevistados da pesquisa, que apontam a inflação (45%) como o principal fator que pode afetar a decisão pela compra do bem, antes mesmo da taxa de desemprego (24%) e do aumento da taxa de juros para o financiamento (20%).

"A preocupação que devemos ter é como o país vai crescer, o quanto ele vai crescer para poder aumentar o poder de compra da população, que é o que está estrangulado. Ou o nosso mercado consegue ganhar produtividade, competitividade e consegue continuar colocando seu produto no bolso do consumidor, ou teremos um forte desencontro entre a oferta e a demanda. Mas isso [ainda] não está acontecendo", finaliza.

Fonte: Gazeta do Povo