Como um efeito dominó, o que acontece na economia do outro lado do mundo, mais cedo ou mais tarde, tem impacto em diversos outros locais do planeta, em maior ou menor grau. Porém, alguns setores representam verdadeiros catalizadores econômicos e, ao mesmo tempo, servem de temômetro da atividade econômica.

Um exemplo é o setor imobiliário, que costuma se aquecer nos mercados de alta, mas que também pode causar estragos, como a crise financeira que atingiu o mundo em 2008 em razão do estouro da bolha da especulação imobiliária nos EUA.

O mercado de criptomoedas também sentiu os impactos de uma crise do setor imobiliário, no ano passado, quando a Evergrande Group, segunda maior incorporadora imobiliária da China, disse que não teria dinheiro para arcar com seus compromissos. Um possível calote de US$ 300 bilhões em seus credores que resultou em quedas generalizadas no mercado tradicional e no mercado cripto.

O gigantismo do setor imobiliário, que exige grandes aportes de empresas e consumidores, pode ser percebido ainda pelo alto grau de burocratização, em linhas gerais relacionadas às garantias jurídicas que envolvem as operações. Por outro lado, embora necessárias, estas garantias também são refratárias à entrada de novos atores para o ecossistema imobiliário.

Foi o que frisou o gerente de negócios da empresa processadora de pagamentos CoinPayments, Rubens Neistein, em um artigo publicado na última segunda-feira, 17, no Monitor Mercantil ao defender a tokenização no mercado imobiliário no Brasil.

A representação de terrenos, casas, apartamentos e outros imóveis por criptoativos, via tecnologia blockchain, deverá saltar de US$ 2,3 bilhões em 2021 para US$ 5,6 bilhões em 2026, de acordo com uma projeção da empresa de consultoria MarketsandMarkets. Número que poderá chegar a US$ 40 trilhões em 2032, segundo avaliação do CEO da plataforma de negociação e gestão de propriedades digitais Netspaces, Andreas Blazoudakis.

Um avanço que reflete a disrupção deste setor, uma vez que a tecnologia também possibilita a compra de parte de um imóvel, como se fosse uma determina quantidade de ações de uma empresa de capital aberto.

Neistein argumentou que a tokenização soluciona dois problemas que atrapalham o desenvolvimento do setor, um deles relacionado à agilidade das transações, tanto no mercado primário quanto no secundário, que pode ainda favorecer as empresas na capitação de recursos para o desenvolvimento de novos empreendimentos, pela venda de utility tokens (tokens de utilidade), vinculados às vendas, e security tokens (tokens de segurança), no caso de revendas.

O segundo embaraço do mercado imobiliário, no caso a refração à entrada de novos atores, seria solucionado também pela tokenização, de acordo com o executivo, em razão da acessibilidade e praticidade de compra e venda de tokens.

Por outro lado, ele deixou claro que há desafios para um eventual cenário de tokenização de imóveis no Brasil. Entre eles a adequação da legislação, a eliminação de riscos de problemas de compliance e a manutenção das boas práticas, além da criação de um arcabouço teórico voltado aos esclarecimentos sobre o assunto, já que o desconhecimento e a desinformação ainda são outras barreiras no caminho do avanço da tokenização imobiliária no país.

Em junho deste ano, uma plataforma de investimentos, com receio de a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) encarar os tokens de um de seus empreendimentos como valor mobiliário, disse que tokenizaria um prédio em São Paulo e que faria a negociação em um país favorável aos criptoativos, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.

Fonte: Exame